O que é uma ostomia e um estoma? Entendendo os termos
Receber a notícia de que você precisará de uma ostomia pode ser assustador e gerar muitas dúvidas. Como médico, meu objetivo é esclarecer tudo para você. A ostomia (ou estomia) é o nome do procedimento cirúrgico que cria uma abertura no corpo para desviar o caminho de fezes ou urina.
Essa nova abertura, que fica na parede do abdômen, é chamada de estoma. O estoma é, na verdade, uma parte do seu intestino ou trato urinário que foi exteriorizada. Ele tem uma aparência avermelhada e úmida, semelhante à parte interna da sua boca, e não tem sensibilidade ao toque, pois não possui nervos.
Quando a ostomia é indicada? Principais motivos médicos
A decisão por uma ostomia ocorre quando o trânsito intestinal ou urinário não pode mais acontecer pelo caminho natural. Isso pode ser necessário em diversas situações, como:
- Câncer: Tumores no intestino grosso (cólon e reto) ou na bexiga são uma das causas mais comuns.
- Doenças inflamatórias intestinais: doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa podem exigir a remoção de partes do intestino.
- Traumas e acidentes: perfurações ou lesões graves no abdômen.
- Anomalias congênitas: malformações presentes desde o nascimento.
- Obstruções intestinais: bloqueios que impedem a passagem das fezes.
É para sempre? A diferença entre ostomia temporária e permanente
Essa é uma das perguntas mais importantes. A resposta depende do motivo da cirurgia.
- Ostomia temporária: é realizada para proteger uma parte do intestino que precisa cicatrizar após uma cirurgia, inflamação ou lesão. Uma vez que a recuperação esteja completa, uma nova cirurgia é feita para reverter a ostomia e restaurar o trânsito normal. Isso pode levar alguns meses.
- Ostomia permanente: ocorre quando a parte final do intestino, o reto, ou a bexiga precisam ser removidos ou foram danificados de forma irreversível. Nesses casos, o estoma será o caminho definitivo para a saída de fezes ou urina.
Conheça os tipos mais comuns de ostomia
Existem diferentes tipos de ostomia, dependendo da parte do corpo afetada.
Colostomia e ileostomia (ostomias intestinais)
Ambas desviam o fluxo das fezes.
- Colostomia: o estoma é feito com uma parte do intestino grosso (o cólon). As fezes costumam ser mais pastosas e formadas.
- Ileostomia: o estoma é feito com o intestino delgado (o íleo). As fezes são mais líquidas e o volume é maior, exigindo mais atenção à hidratação.
Urostomia (ostomia urinária)
Neste caso, o desvio é do fluxo da urina, e não das fezes. Geralmente, é feita utilizando um pedaço do intestino delgado para criar um conduto que leva a urina dos rins até o estoma.
A cirurgia de confecção do estoma: o que você precisa saber
O processo cirúrgico é um passo importante e estar preparado ajuda na recuperação.
Cuidados e preparação antes do procedimento
Antes da cirurgia, você passará por consultas com o cirurgião e, fundamentalmente, com um enfermeiro estomaterapeuta. Este profissional é especialista em ostomias e irá ajudá-lo a escolher o melhor local no abdômen para o estoma, além de oferecer todo o suporte educacional e emocional.
Como é a recuperação após a cirurgia
A recuperação inicial acontece no hospital, onde você aprenderá os cuidados básicos com o estoma e a bolsa coletora. É normal que o estoma esteja inchado no início. Com o tempo, ele diminuirá de tamanho. A equipe de enfermagem e o estomaterapeuta irão orientá-lo em cada passo até que você se sinta seguro para cuidar da sua ostomia em casa.
A bolsa de ostomia: como funciona e como é colocada

A bolsa coletora é o dispositivo que se encaixa no estoma para coletar as fezes ou a urina. Ela é composta por duas partes principais:
- Placa protetora (ou base adesiva): fica colada na pele ao redor do estoma, protegendo-a do contato com o efluente (fezes ou urina).
- Bolsa coletora: onde o efluente é armazenado. Ela é à prova de odores e discreta sob a roupa.
Existem sistemas de uma peça (placa e bolsa são unidas) e de duas peças (são separadas, permitindo a troca da bolsa sem remover a placa da pele). A colocação é um processo que você aprenderá e aperfeiçoará com o tempo, garantindo segurança e conforto.
Cuidados essenciais para o paciente ostomizado no dia a dia
Com os cuidados certos, é possível ter uma vida completamente normal e ativa.
Higiene do estoma e da pele ao redor
A pele ao redor do estoma (pele periestomal) exige atenção. A higiene deve ser feita apenas com água e um pano macio ou gaze, secando bem a área antes de colar a nova placa. O uso de sabonetes (mesmo neutros) pode deixar resíduos que atrapalham a aderência da placa.
Acompanhamento nutricional: alimentação e dieta
Não há uma “dieta do ostomizado” rígida, mas algumas orientações são importantes. Beba bastante água, especialmente se tiver uma ileostomia. Nos primeiros meses, reintroduza os alimentos aos poucos para observar como seu corpo reage.
Alimentos como repolho, feijão e refrigerantes podem aumentar os gases, enquanto outros, como a maisena e a batata, podem ajudar a engrossar as fezes.
Possíveis complicações e como lidar com elas
Irritações de pele, vazamentos e hérnias são algumas das complicações possíveis. O mais importante é não se desesperar. O acompanhamento regular com o enfermeiro estomaterapeuta é a melhor forma de prevenir e tratar esses problemas. Ao sinal de qualquer alteração, procure-o.
Retomando a rotina: estilo de vida, trabalho e atividades
Após o período de recuperação, você poderá voltar ao trabalho, viajar, namorar e fazer a maioria das atividades que fazia antes. A ostomia não é uma barreira para uma vida plena. A adaptação é um processo, e o apoio da família, amigos e profissionais de saúde é fundamental.
Quais são os direitos do paciente ostomizado?
No Brasil, a pessoa com ostomia é considerada uma pessoa com deficiência física. Isso garante direitos, como:
- Recebimento das bolsas coletoras: o Sistema Único de Saúde (SUS) deve fornecer gratuitamente os equipamentos (bolsas e placas).
- Acesso a banheiros adaptados: Direito de usar banheiros para pessoas com deficiência.
- Benefícios sociais e previdenciários: dependendo do caso, pode ter direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) e isenções na compra de veículos.
Perguntas frequentes sobre ostomia
Como é a troca da bolsa de ostomia?
A troca envolve remover a bolsa usada, limpar suavemente a pele ao redor do estoma com água, secar bem e aplicar a nova bolsa. A frequência da troca da placa adesiva varia (geralmente a cada 3-5 dias), enquanto a bolsa pode ser esvaziada várias vezes ao dia.
É possível praticar esportes sendo ostomizado?
Sim! Após a liberação médica, a maioria dos esportes pode ser praticada. Natação, corrida, academia e ciclismo são perfeitamente possíveis. Para esportes de contato, pode ser recomendado o uso de um protetor de estoma. Apenas o levantamento de peso excessivo deve ser evitado pelo risco de hérnia.
A ostomia tem cheiro?
Não. As bolsas modernas são fabricadas com materiais à prova de odores. O cheiro só é perceptível durante a troca da bolsa, assim como acontece quando qualquer pessoa vai ao banheiro. Se houver cheiro fora desses momentos, pode ser sinal de um vazamento ou de uma bolsa mal adaptada.
Conclusão: vivendo uma vida plena e ativa com a ostomia

Receber um diagnóstico que leva a uma ostomia é uma jornada de grandes transformações, mas é importante vê-la como um recomeço. A cirurgia salva vidas e, com a informação correta, o apoio de uma equipe de saúde qualificada e uma rede de suporte, é totalmente possível viver uma vida feliz, ativa e sem limitações. A ostomia não define quem você é, mas sim uma nova forma de cuidar do seu corpo e da sua saúde.





